quarta-feira, 16 de maio de 2012

naquele momento alí


Entre mim


Entre a carne, o osso
entre a perna, o passo
entre a mão, o traço
entre a boca, o dente

entre a mãe, o ventre
entre a gente, o outro
entre a língua, o gosto
entre o outro, a gente

entre o mar, areia
entre a veia, o sangue
entre o mangue, a ceia
entre o seio grande

entre a meia, o dedo
entre o seu pecado
entre um só, segredo
entre o céu, sagrado

entre o mau, o medo
entre o mar, o mundo
entre o meu, brinquedo
entre o amor,profundo.

texto e foto: Guto Carvalho Neto

auto-corte


Caminho


l'Enfer avec Romy Schneider


Silêncio um

Pediu sorvete e veio chiclete, entendeu ao seu modo e logo o silêncio o conquistara. Calçou as botas e saiu sem desatar uma só palavra. Dedo não é pra bolo, furo não é segredo e o gelo que sobrara no copo, dava-lhe a certeza de que nada estava definido diante dos seus olhos. Olhou a luz e continuou profundamente com aquela certeza, olhou o copo e partiu.

sábado, 3 de dezembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Clandestino







Minha memória sertaneja, cheia de mandacarus, bem-te-vis, cheiro de aroeira e pau d'arco,
minha imagem-mensagem subliminar ao ar que respiro, enche o pulmão de liberdade na montanha da cidade grande. 
Meu Cristo Redentor, meu Padim Páde Ciço, em tempo de aflição, festejo o carnaval, boto o bloco na rua, alma nua e crua, não me amarra dinheiro não.
Meu sertão pão de açúcar, mel mandassaia, valha-me Deus de alegria, minha Bahia Rio de Janeiro, o ano inteiro te vejo e meus olhos de saudade invade o chão de terra batida, mar de Ipanema, cidade garantida proibida, arranjar meio de vida, Margarida, pra você gostar de mim.
Foto e texto: Guto Carvalho Neto

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nobre passagem


Passar (v.t.) - Ir de um lugar a outro, ir através, cessar, desaparecer, elevar-se, ser transmitido, mudar, ultrapassar, tolerar, deixar passar os erros. Sofrer um aborrecimento, uma dor, uma desagradável necessidade. Passar o tempo é empregá-lo em alguma coisa.
Aconteceu de eu passar o olho em algo transmitido naquele momento, numa praça em Buenos Aires, não me permitindo passar batido. Alguma coisa me bateu fortemente. Era a imagem de um um nobre homem que ali estava, simplesmente empregando o seu tempo em alguma coisa. Aquela cena digna de uma grande tela me deixou tão hipnotizado, que confesso quase não conseguir registra-la, era eu, era você, era uma passagem de alguém talvez tolerante, talvez sofrido, talvez elevado. Alguém que passava com maestria, uma imagem visual incrível, nobre como o tempo, senhor tão bonito, tambor de todos os ritmos.
Pensei em caminhar até este nobre rapaz e descobrir um pouco mais sobre o enigma ao qual me hipnotizara e após rápida reflexão, não me senti no direito ou talvez digno de dirigir-lhe a palavra sem que me houvesse permitido, então guardei a minha nobre imagem registrada e segui em frente, intrigado, feliz, nostálgico, passando por um momento único, passando de um lugar para o outro, elevando-me e seguindo.
Guto Carvalho Neto, vinte de abril de dois mil e onze.

domingo, 10 de abril de 2011



"Você mora onde você mora, faz o seu trabalho, come o que você come, veste as roupas que veste, olha para as imagens que vê.
Você vive como pode viver. Você é quem você é.
Identidade” de uma pessoa, de uma coisa, de um lugar.
“Identidade”, só a palavra já me dá calafrios. Ela lembra calma conforto, satisfação.
O que é identidade?
Conhecer o seu lugar? conhecer o seu valor? saber quem você é? Como reconhecer a identidade?
Criamos uma imagem de nós mesmos e tentamos parecer com essa imagem. É isso que chamamos de identidade? A reconciliação entre a imagem que criamos de nós mesmos e nós mesmos? Mas quem seria esse "nós mesmos"
A identidade está fora. Fora de moda.
Exatamente. Então o que está na moda senão a própria moda?
Por definição, a moda está sempre na moda.
Identidade e moda seriam coisas contraditórias?
(...) O mundo da moda? Estou interessado no mundo, não na moda.
Mas talvez eu tivesse desprezado a moda rápido demais. " (Introdução do filme Identidade de Nós Mesmos-Win Wenders)


Desde a primeira vez que vi esse filme, há mais ou menos 6 anos, fiquei refletindo sobre essa introdução mas não tive vontade de escrever. Só agora, depois de algum tempo e várias reprises, consigo sentar-me em frente ao computador para escrever algo sobre esse assunto intrigante, que me consome no exato momento em que decido fazer algo que tenha a minha identidade, uma coleção que tenha a minha cara, o meu registro geral. Acabo de perceber que preciso fazer uma desintoxicação de registros alheios, aqueles que nos fazem amar muito tudo isso, curtir aquilo e adorar o que a maioria adora, mas será que esses registros são realmente alheios?  será que devo iniciar a busca pela minha identidade que nunca me preocupei em encontrar, por achar tudo isso muito confortável? Ok, então acho que devo começar pela raiz, o que tem em meus documentos, as informações precisas e os donos da história, o meu roteiro original, sem adaptações, a não ser as expontâneas, que chamamos de decisões da vida, necessárias pra justificar algo mais a frente.
Então começarei do começo, fazendo uma viagem para o lugar de onde vim, olhar em volta e ver o que realmente sou, o que realmente é meu, o meu registro. Acredito que isso seja encantador, ou melhor, uma viagem sem volta para o meu registro geral. E depois, os registros serão originais.